sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Eu não sei de onde vem tanta renitência e nem de onde germinam as minhas forças. Não sei onde elas se iniciam, nem quando elas cessam. E nem sei se neste caso - de fato - elas terminaram. Também não sei como é possível subir intermináveis escadas e quando olhar para trás, permanecer antes do primeiro degrau. Sei que existem momentos em que eu não consigo lidar, não dá para fingir e eu tombo do mais alto dos precipícios. Sinto tua ausência à flor da pele, descorada e ácida. Assim, eu fico sendo paraíso e inferno, sol e chuva. Mais tempestade do que o próprio sol. Altero-me de vez em sempre. Olho para o céu e vejo que nem as estrelas vivem sós, estou sorrindo, viro-me para o chão e estou debulhando em lágrimas. Entristeço-me em receber sinopses da sua vida cotidiana, somente a cada duas semanas e perto do final da quinzena, aproximadamente. Eu sei, entendo mais do que ninguém. Conheço cada um dos seus protocolos e sei de cor todos os nomes. Mas às vezes, não vejo empenho suficiente da tua parte. Eu luto tanto, por mim, por você, por nós dois. Derramo todo o sangue e suor que há em mim. Excedo os piores pélagos, piso nos mais árduos espinhos... Mas, parece que está parando vagarosamente, fazendo-me estacionar no meio da ponte também. Desastre, nos atrasamos para o terminal. Perdoa-me se estou te inculpando ou algo semelhante. Sei que quando me juras, efetivas. Porém, essa nódoa de sangue vem palpitando e se alastrando a cada dia, rasgando a carne e cravando o peito com inúmeros aguilhões. E culpo tudo, mesmo sem razões precisas. Sei que sou errante. Sou a maior idiota do mundo, por escrever estas coisas depois de tudo o que passamos juntos. Tudo que experimentamos e pactuamos. É por isto que muitas vezes acho que não vou tolerar. E não suporto. Mas eu insisto, desde que descobri um jeito de desfalcar a dor da ausência. Juntando os pedaços. Bordando a saudade. Mesmo que isto seja em curto prazo. Tu tem sido vulcão e iceberg, deixando metade do meu corpo incendiado e outra metade frígida. Sincrônico. Sei que somos apenas um, mesmo quando parecemos ser água e óleo, frente e verso, dia e noite. O que sentimos é a nossa afinidade, guarida para a nossa sobrevivência. O fôlego, para o nosso alívio... Sei que em breve estaremos assinando a carta de alforria do término de abstinência, e mataremos o fuso horário que nos atrasa. Esse chão que nos distancia. Tenho sido uma louca ao andar pelas ruas, colando cartazes de "procura-se", amargurada com meus passos lôbregos, cabisbaixa, sem direção, tendo as estrelas como teto. Não tenho dormido o bastante, pois as noites não acabam e os dias são cáusticos. Aqui, a estas horas, os pássaros já cantam. Sei que os dias são similares por ai, embora pareça a Filipinas. Estou trancada no quarto, deduzindo sempre que tu estás sorrindo. Se estás chorando a febre da saudade. Apregoando as pálpebras ou tocando piano. Na fila do pão ou num parque de diversões. Angustia-me não saber de ti. Não saber notícias tuas. Não ouvir o teu cantar, nem o teu falar. Esperando no celular a mensagem, que até agora não chegou. Aflijo-me literalmente. Lembro-me de tua voz calma com aquele sotaque inconfundível, dizendo que estaríamos juntos em breve. E saiba que, apesar do chá do teu sumiço, eu não me rendi. Pois sei que, se eu abdicar agora após todo esse caminho andado, minha espera não terá valido à pena. Nem a minha vida. Eu morreria... Eu apenas desejo que me corresponda, uma carta, uma ligação. Necessito saber de ti todos os dias, no despertar da manhã, quando acordo. Volte e seja fogo! Salve-me desse frio. Estou em nossa casa, abraçando todas as perspectivas do mundo e mirando aquele cartão-postal, ilustrado com o pôr do sol fascinante que me destes. Tu sabes mais do que ninguém, que eu irei perduravelmente te esperar. Nem que para isso eu precise passar a vida inteira nesta janela. 

[Embriagar-se]

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